quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Quinta Linha


Em sonho tudo acontece

Sentados em torno de uma mesa num espaço que mais parecia uma esplanada que pertencia ao protocolo familiar, conversávamos. O ambiente estava um bocado escuro, apenas reconheço o rapaz que está sentado à minha frente, jovem, com cerca de 12 anos e muito esguio, com um aspecto demasiado frágil mas um espírito muito forte e decidido. Havia uma grande intensidade de energia no ar. Vejo um vulto passar-me pelo ombro esquerdo e sentar-se numa cadeira vazia que estava precisamente ao lado desse rapaz, era o seu espírito guerreiro, uma entidade que o acompanharia na batalha que estava para surgir. A cadeira branca de plástico, a típica de uma esplanada comum, estava vazia, ninguém conseguia ver que havia uma presença ali sentada mas eu sabia-o, vi-a e então falei e expliquei que aquele vulto, de aparência esguia e que transmitia uma força fantástica, era o seu guardião. De inicio não acreditaram, mas eu sentia-me com a missão de os orientar naquela caminhada. Até que Ela chegou, uma mulher já com alguma idade, um sorriso caloroso, pele branca, vestida de tons verdes escuros, azuis e brancos, num conjunto de peças estampadas e arrendadas. Sentou-se nessa cadeira, bem no extremo dando a mostrar que mais alguém ali estava, então compreenderam, Ela mostrou que o que eu tinha visto e o que dizia era a verdade, sorria e ao mesmo tempo em mente falava-me “Estou contigo e vou ajudar-te a compreenderem que temos uma missão.”, agradeci por um sorriso.
A partir desse momento, todos os passos que ele dava eram acompanhados pelos do ser invisível, mas que eu via, sabia que ali estava, era como um vulto branco semi-transparente com uma forte presença que impunha respeito e que o rapaz transmitia sem perceber. Protegiam-se ambos porque o importante era a missão em que se encontravam. Ele vestia-se com tons castanhos, uns calções com pregas até baixo do joelho como as ditas calças que no séc. XVII os nobres usavam com meias brancas, e trazia também uma capa bordeaux já bastante gasta. Eu percorria os passos dos vários membros da irmandade, seguindo-os pela sombra, precisava saber se estavam bem. Tomás passava na calçada junto ao muro, o tal muro, um muro altíssimo de pedra que lá estava, logo atrás vinha o seu protector, bastante mais alto que o rapaz, eu sob um toldo, na sombra olhava-os a caminhar, decididos, no mistério.
Ela também fazia parte da irmandade, sentia-se perdida e completamente confusa, a tristeza e o vazio faziam parte do seu rosto, na vida não passava de mais uma prostituta, usava um vestido vermelho curto bastante amarrotado, collants pretas e saltos altos, de pele morena, olhos negros como os seus cabelos meio ondulados que lhe caiam pelas costas. Percorria essa mesma calçada, o seu espírito guerreiro tentava juntar-se a ela mas os sentimentos que a assombravam tornavam-no mais pequeno e escuro, até que num flash ela se apercebeu que não estava sozinha, tinha finalmente percebido que no obscuro da sua mente ela também tinha sido escolhida para a batalha. Começaram a percorrer aquela calçada juntos com uma força incrível e decididos dos passos que davam, ela e o seu espírito guerreiro, o vulto que eu agora também via ela possuir. Entretanto, eu esperava calmamente que o meu viesse ter comigo, primeiro precisava que todos estivessem preparados.
Sentia o meu coração feliz, finalmente não estava sozinha, aliás momento algum estive sozinha, simplesmente eu já estava na luz e a energia do Universo corria-me nas veias, eu podia “ver” e “sentir”, podia reagir e avançar por aquela calçada e ir ao encontro de todos os outros. Desço as escadas com um dinamismo e flexibilidade que outrora desconhecia, pelo meio de saltos fico de pé, estava preparada, sorria, começo a voar.
Começam a surgir imensas coisas, uma confusão de imagens e pessoas, tudo demasiado confuso, apercebo-me que nada tinham a ver com tudo o resto… Estava a ficar consciente, acordei. Tinha sido apenas um sonho, aliás finalmente um sonho, apesar de não saber qual o final e ficar curiosamente intrigada, sinto-me feliz e com uma energia estranhamente fantástica.

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